Embora a sustentabilidade e a redução de custos estejam no topo da agenda das empresas, a gestão das devoluções de produtos constitui um desafio significativo. Graças à logística inversa, também designada por logística de retorno, este problema pode ser transformado numa verdadeira oportunidade. Ao adotar práticas eficientes de logística inversa, as empresas podem não só reduzir o seu impacto ambiental como também melhorar a sua rentabilidade.
Com o crescimento do e-commerce, as devoluções de produtos tornaram-se cada vez mais frequentes. Dependendo do país europeu, a taxa de devolução de produtos comprados online varia entre 7 e 15% entre os adultos (25-64 anos). Sem surpresa, estes valores aumentam significativamente entre os jovens adultos (18-24 anos). Embora estas devoluções representem um desafio económico e ambiental óbvio, a satisfação do cliente não deve ser descurada. Atualmente, os clientes querem uma política de devoluções clara e simples.
Por conseguinte, a gestão destes fluxos de mercadorias constitui um verdadeiro desafio para as empresas, nomeadamente em certos sectores (distribuição, moda e vestuário, eletrónica, etc.). Esta constatação levou-os a aprofundar o conceito de logística inversa, um processo de gestão da cadeia de abastecimento.
Por definição, a logística inversa refere-se ao processo de retorno dos bens na cadeia de abastecimento, desde o seu destino final (o consumidor) até ao seu ponto de origem (o retalhista, o fornecedor ou o fabricante). O líder mundial em transporte e logística, a DHL, descreveu em linhas gerais o que é a logística inversa: “São as atividades logísticas após a venda inicial de um produto para potencialmente extrair valor ou terminar o ciclo de vida do produto. Isto inclui o transporte físico de bens, bem como os elementos organizacionais e administrativos, tais como a gestão de devoluções, trocas e recolhas.”
Frequentemente confundido com o serviço ao cliente, abrange, no entanto, uma gama muito mais vasta de atividades, incluindo a recolha, a triagem, a gestão de garantias, a reutilização, a reparação, a renovação, o recondicionamento, a revenda, a recuperação de resíduos, a reciclagem e a gestão de resíduos.
Enquadrada nas práticas da economia circular, a utilização da logística inversa oferece vários benefícios, alinhados com a Responsabilidade Social das Empresas (RSE).
Em primeiro lugar, a logística inversa pode aumentar os rendimentos de uma empresa. A comodidade da devolução de produtos continua a ser um fator decisivo no percurso de compra do consumidor. A flexibilidade oferecida por uma política eficaz de devolução de produtos contribui, portanto, para atrair potenciais clientes, reter clientes e, consequentemente, aumentar as vendas.
Através de uma logística inversa eficaz, uma empresa pode recuperar o valor económico relacionado com as devoluções. Assim, podem ser consideradas novas soluções para reutilizar materiais ou explorar novos mercados.
Ao favorecer a reutilização dos produtos e reduzir a produção de resíduos, a logística inversa desempenha também um papel fundamental na redução da pegada de carbono de uma empresa. Ao evitar a simples eliminação dos produtos devolvidos, uma empresa pode reduzir o seu consumo de matérias-primas frescas e de energia, num esforço de proteção do ambiente.
Por último, a logística inversa permite melhorar a gestão do inventário e do armazém de uma empresa, nomeadamente porque limita o excesso de stock de produtos usados.
Em última análise, todos estes fatores influenciam tanto a competitividade de uma empresa como a sua imagem aos olhos dos clientes.
Alguns dados importantes
– O mercado global de reciclagem de produtos eletrónicos foi estimado em 39,8 mil milhões de dólares em 2022. Prevê-se que atinja 110 mil milhões de dólares até 2030, com uma taxa média de crescimento anual de 13,6% .
– Em conjunto com vários robôs inteligentes, a inteligência artificial atinge um nível de precisão de até 98% na triagem de vários materiais, desde embalagens de plástico a resíduos de construção e demolição.
Para criar um processo de logística inversa eficiente, económico e sustentável, as empresas podem basear-se em várias práticas recomendadas.
A primeira etapa da implementação de um sistema de logística inversa consiste em estudar as causas e as necessidades relacionadas com a devolução de um artigo ou de um equipamento. Desta forma, cada empresa pode adaptar os seus processos (procedimentos, prazos, embalagens, etc.) de forma a reduzir os seus custos operacionais.
Numa segunda fase, a criação de um espaço dedicado à recepção, ao controlo e à armazenagem das mercadorias devolvidas pode ser adequada. Isto facilita o controlo e o acompanhamento destes produtos, permitindo assim escolher a melhor opção (reparação, revenda, reciclagem, etc.) tendo em conta a rentabilidade.
Também é possível automatizar, ou mesmo robotizar, vários processos relacionados com o manuseamento, o transporte e o controlo dos produtos. Graças às novas tecnologias, os operadores apenas têm de digitalizar os produtos e submetê-los a uma gestão de qualidade para que sejam automaticamente referenciados e listados. Isto aumenta a produtividade, limitando os riscos de erro ou de perda.
Algumas empresas especializadas em logística inversa oferecem-se para gerir este tipo de serviço em nome de outras empresas. Como dispõem da experiência e das infra-estruturas necessárias, podem ajudar os seus clientes a ganhar flexibilidade e a reduzir os custos operacionais.
É claro que a melhor estratégia de logística inversa continua a ser aquela que não existe, pois implicaria uma satisfação perfeita das necessidades dos clientes e canais de reciclagem robustos. No entanto, a gestão das devoluções de produtos é uma realidade muito presente no coração da cadeia de abastecimento. Para as empresas, é uma oportunidade única de se diferenciarem, repensando o seu modelo de negócio em prol do desenvolvimento sustentável.
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