A inflação tem um impacto inevitável nas atividades empresariais. Aumenta os custos de aquisição e produção, elevando o risco de ruturas na cadeia de abastecimento. Para se protegerem e manterem a rentabilidade, as empresas precisam de acompanhar de perto o mercado. Um indicador essencial para isso é a inflação subjacente. Este índice de preços exclui elementos altamente voláteis, como os produtos alimentares frescos e a energia, bem como preços regulados, proporcionando uma visão mais clara das tendências a longo prazo.
Entre as várias formas de medir as alterações nos preços, destaca-se um indicador especialmente valorizado pelos bancos centrais e economistas: a inflação subjacente. Este índice exclui os preços sujeitos a intervenção governamental (como eletricidade, gás, tabaco) e produtos com valores muito voláteis (produtos frescos, carne, lacticínios, flores, plantas, derivados do petróleo), que sofrem grandes oscilações devido a fatores climáticos ou pressões de mercado.
A inflação subjacente é calculada com base na variação homóloga dos índices de preços, excluindo os elementos mencionados. É um índice ajustado sazonalmente, não influenciado por políticas governamentais, o que oferece uma visão mais fiável das tendências estruturais de preços num país ou região.
O economista Philippe Martin explica:
“O conceito de inflação subjacente pretende avaliar as pressões estruturais sobre os preços, provocadas pela dinâmica da procura, tensões na cadeia de valor ou a espiral entre salários e preços, excluindo os bens e serviços mais voláteis.”
Este indicador é seguido de perto porque oferece uma representação mais fiel da inflação do que o índice global. A sua evolução orienta, por exemplo, a política monetária do Banco Central Europeu (BCE). Christine Lagarde, presidente do BCE, afirma:
“A inflação subjacente refere-se à componente mais estável da inflação, que, após choques temporários, persiste a médio prazo.”
Economistas e analistas recorrem a estatísticas nacionais e ao índice de preços no consumidor (IPC) para entender melhor o impacto da inflação na economia, sendo a inflação subjacente uma das suas componentes fundamentais. É uma ferramenta essencial para acompanhar a taxa de inflação e perceber a evolução do PIB (Produto Interno Bruto), ajudando as equipas de compras a antecipar custos e definir estratégias mais precisas.
Num cenário inflacionista, os departamentos de compras enfrentam um grande desafio: controlar os custos sem comprometer a qualidade nem a continuidade do abastecimento. Felizmente, existem boas práticas que os compradores podem aplicar para atenuar o impacto da inflação.
É essencial antecipar desenvolvimentos no mercado e necessidades futuras. Monitorizar a inflação subjacente permite compreender tendências gerais, mas é igualmente importante acompanhar indicadores por categoria, riscos de escassez, constrangimentos dos fornecedores e até oportunidades de mercado.
Exemplos de ações:
Para isso, é necessário utilizar ferramentas de análise preditiva e monitorização de dados externos.
Gerir a inflação também passa por estabelecer um diálogo aberto com os fornecedores: compreender a sua situação, negociar condições vantajosas e tentar garantir preços fixos ou descontos.
Alexandre Billard, diretor de compras da Lumibird, partilha:
“As relações estão tensas, pois muitos aumentos de preços exigidos pelos fornecedores – supostamente devido ao aumento dos custos das matérias-primas – já não são justificados.”
Compreender as estruturas de custos dos fornecedores e referenciar-se nos índices de mercado é essencial. A inflação subjacente fornece uma tendência global, mas pode ser complementada com índices específicos, como os de matérias-primas, energia ou mão de obra.
A diversificação de fornecedores (dual sourcing) permite mitigar riscos como dependência excessiva, ruturas de stock ou incumprimento contratual.
A chave é identificar novos fornecedores que sejam:
A escolha não deve basear-se apenas no preço. Critérios como inovação, flexibilidade e responsabilidade ambiental também devem ser considerados.
Por último, os departamentos de compras podem também trabalhar para otimizar os seus processos. Ao racionalizar, automatizar e simplificar os seus processos, podem reduzir os custos indirectos.
As alavancas disponíveis para os compradores incluem a racionalização da carteira de fornecedores, a consolidação das compras para reduzir os custos de gestão dos fornecedores e os custos de transação, a obtenção de economias de escala e a negociação de preços baseados no volume. Outra alavanca eficaz é a digitalização das transações através de soluções de e-procurement, que permitem poupanças até 80% por transação, juntamente com uma visão clara das despesas e uma abordagem amiga do ambiente.
Em suma, a inflação de base é uma medida estável e coerente das variações de preços, menos afetada por fenómenos externos. Ao excluir componentes voláteis, proporciona uma visão clara das tendências económicas a médio prazo, ajudando as empresas a compreender as tendências inflacionistas e a tomar decisões informadas. Isto permite às equipas de compras controlar os custos, reduzir os riscos e manter relações sólidas com os fornecedores.